quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Penicilina.

Oi, vó.
Hoje não foi um dia dos bons. É certo que, no últimos tempos, tenho pensado muito em você. Aperta tanto, vó, que o coração fica pequenininho.
Tô aqui deitada, com o cobertor que era seu, depois de reler e reler e reler o caderno que você sempre disse que chegaria até mim quando você fosse embora. Você foi, ele veio - obrigada por não deixar de cumprir suas promessas.

Tocar nesse caderno que você pegou tantas vezes, ler seu português simples, encontrar sua fé - nossa fé - nas palavras escritas aqui... É uma forma de me lembrar sempre que eu não estou sozinha porque tem tanto amor nos ligando, meu Deus, que solidão não tem espaço no meu mundo.

Vó, hoje reli a parte em que você conta como a guerra lá na Europa afetou o sertão paulista.

Queria te contar que percebi nas suas palavras que não se pode comparar as dores nossas com as dos outros.
Não caiu bomba no seu sertãozinho, vó, mas teve sofrimento e eu consigo entender.

Não deixo nunca de me surpreender com a sabedoria da sua singeleza. Que eu tenha 10% de você em mim, e já será muito, e talvez eu não mereça.
Mas, depois de divagar tanto, a certeza com que eu me recolho pra dormir é uma: se penicilina curasse a saudade, hoje eu não dispensaria a minha dose.

Com todo amor e gratidão do mundo,
Sua neta.

(Taboão da Serra, 19 de maio de 2015)



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