quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A grama do meu jardim.

Eu sempre enchi a boca pra falar: "não gosto de pelos", "é sujo", "é nojento" e "é feio, em homem e em mulher". Mas eu realmente acreditava nisso?
Veja bem, eu fui treinada. Aos doze anos, me ensinaram que bonito mesmo é corpo sem pelo.
Que eu precisava tirar todos os eles. Que meu corpo deveria ser infantilizado - corpos de meninas não tem pelos.
É claro que ninguém me disse que não diziam isso pros meninos também.
Então, aos vinte anos, eu realmente achava que não gostava de pelos, que eram sujos.
Me ensinaram. Que pelo é coisa de homem. Que pelo, em corpo de mulher, é anti-higiênico.

Há algumas semanas, tive um insight: queria conhecer a Bárbara. Não a Bárbara-mulher-que-usa-saias-e-vestidos-e-gosta-de-cor-de-rosa. Queria olhar bem na cara da Bárbara-ser-humano, a Bárbara-indivíduo.

Já tinha tentado uma vez e desistido. O julgamento, inclusive dentro de casa, foi pesado. Mas jurei pra mim que dessa vez eu iria até o fim.
Há algumas semanas, eu não deixo pinças, ceras, navalhas e giletes se aproximarem do meu corpo. Está sendo absolutamente libertador.

E é um desafio. Todo dia é um desafio.
Deixá-los crescer foi o menor dos problemas. A minha maior tarefa foi aprender a gostar deles, a ver beleza.

Todo dia é um gritar pra sociedade que eu existo como ser pensante, como ser de opinião.
Gostar dos meus pelos é uma afronta ao heteropatriarcado. É uma coisa que eu exercito todos os dias: eu acordo e me observo e me obrigo a ver beleza em mim do jeito que eu (e)s(t)ou - me faço olhar pro meu corpo todos os dias e dizer: "você é linda".
Então, é como se eu botasse o dedo na cara do machismo e dissesse: "não engulo mais essa sua cagação de regra pra cima desse corpo que é só meu."
É um ato político. Todo dia na minha vida é um ato político.

Corpo de menina não tem pelos. Corpo de mulher, sim.

Descobri a quantidade de tempo e de dinheiro que eu gastava com isso.
Descobri que sou bonita de qualquer forma.
Descobri que a presença deles não interfere de forma alguma na minha vida sexual. (Aliás, descobri que se alguém deixa de transar comigo por causa deles não estou perdendo nada.)

Eu posso olhar no espelho e sorrir. Eu tenho 1,61 m, peso 68 kg e tenho pelos pelo corpo inteiro, porque pessoas tem pelos. TODAS as pessoas tem pelos.

Hoje, se eu decidir me depilar, posso dizer que foi porque eu realmente quis. Porque eu cansei dos pelos. Porque eu descobri que acho feio.
Mas um "porque eu" de verdade. E não um "porque a sociedade" disfarçado de minha opinião.

(Taboão da Serra)

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