sexta-feira, 12 de setembro de 2014

S o r o r i d a d e.

Esse texto é um agradecimento.
É dedicado a uma pessoa em especial, mas pode ser estendido a quem se sentir tocado por ele.



Obrigada, companheira, por me fazer confrontar assim, no cru, esse processo de desconstrução a que decidimos nos submeter em busca de um mundo mais livre.
Obrigada pela sinceridade nas suas palavras, obrigada por não esconder que sentiu ciúme de mim, que talvez tenha me odiado por alguns segundos, e que isso te causou sofrimento.

Pensei que nós nunca tocaríamos nesse assunto e sentia, ao mesmo tempo, que nunca nos pertenceríamos verdadeiramente como irmãs, como companheiras nessa luta, se não tocássemos nessa ferida - então, muito obrigada por tê-lo feito. Eu talvez nunca tivesse tido a coragem.

É fato que o sentimento de competição está arraigado em nosso psicológico. O sentimento de posse está ali, latente.
O ciúme que você sentiu é normal. E só agora eu consigo imaginar como pode ter sido absolutamente devastador para você. Como superá-lo pode ter sido tão dolorido.

Irmã, você me contou o momento exato em que me amou, apesar daquela pedra no nosso caminho:
Você me abraçou, naquela quadra cheia de gente bebendo cerveja.
Preciso que saiba como eu me senti livre! Como eu me senti sua! Como fui, naquele momento, completamente igual a você!
Minutos antes, eu te disse, você estava tão na defensiva comigo que eu estava entregando os pontos. Pensava "Ela nunca será minha companheira!", sem nem desconfiar que já o éramos.

Obrigada, companheira, por ter me puxado para aquele aperto libertador.

Obrigada por ser minha irmã.

Obrigada por ter superado comigo esses anúncios e ensinamentos machistas que nos bombardeiam o tempo inteiro: nós não somos inimigas. A vida não é competição.

Os nossos problemas, os nossos medos, são tão iguais. As lágrimas que você chora todos os dias são tão parecidas com as que molham meu travesseiro todas as noites!
Me vejo tanto nas suas palavras.
Eu preciso que você saiba que eu quero te ajudar. Eu estou aqui para te ajudar.

E preciso também que você me ajude. Me ajude a enfrentar essa vida tão dura, assim como me ajudou a ver que aquele abraço nos libertou ao mesmo tempo.

Companheira, obrigada por ontem. E obrigada por todas as experiências que nos trouxeram até aqui, pelos nossos machucados e pela superação deles.

Saiba que você é meu espelho. Que quando eu olho pra você, eu enxergo a mim.
Que as suas feridas também me doem e que podemos tratá-las juntas.
Que, nessa luta contra as opressões do mundo, estou segurando a sua mão.

Companheira, irmã: obrigada! Obrigada por se permitir ser minha. Obrigada por me permitir ser sua.
Obrigada por sermos, justamente por isso, absolutamente livres.

(Taboão da Serra)

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