segunda-feira, 9 de abril de 2018

O que a Enfermagem fez por Mim

Eu não me lembro, claro. Só sei que eu nasci prematura e naqueles primeiros dias, doze dias, foi a enfermagem que cuidou de mim para a minha mãe. Para que eu sobrevivesse.
Eu também não lembro, mas quando minha irmã estava pra nascer fiquei doentinha de novo. E, mais uma vez, a enfermagem esteve ali e ajudou a minha mãe, grávida, com meus cuidados básicos. Me ajudaram a sobreviver.
Aos dez anos de idade, mais uma vez eu precisei da enfermagem... E mais uma vez, a enfermagem estava lá. Foram mais dezessete dias de cuidados intensivos e desses eu me lembro: troca de fralda, higiene bucal com bonequinha quando minhas mucosas não aguentavam a escova de dente, passagem de cateter para alimentação, medicações, coletas de exames, presença e toques... A enfermagem esteve ao meu lado, para me ajudar a sobreviver.
Oito anos depois, a gente se cruzou de novo - ela e eu. Tão recente na memória aquela primeira noite na UTI, sozinha. Eu nunca tinha ficado sozinha no hospital. Aquela noite em especial, em que eu sentia tanto medo de morrer, a enfermagem me amparou na pessoa daquela técnica que vinha me ver e segurar a minha mão, a noite inteira me ouvindo chorar, me dizendo que estava ali. O que mais ela poderia fazer? O que mais ela precisaria fazer quando sua simples presença diminuía a minha dor e meu medo? Dessa internação eu lembro de tudo: a insistência pra eu sair da cama e andar pelo corredor ou me sentar na poltrona, os exames de sangue bem cedinho, o respeito pela minha Santa Bárbara em cima do criado mudo, toda aquela gente boa aguentando os meus chiliques.
Um tipo diferente de enfermagem me amparou quando minha mente não dava mais conta de seguir sozinha. O olhar carinhoso da enfermeira da psiquiatria que me recebeu, o tanto que eu chorei, o fato de ela nunca me confundir com a outra Bárbara e nunca me dar dipirona devido ao meu histórico médico, só paracetamol, porque eu não sou alérgica "mas não é bom arriscar, né?". O incentivo para que eu tomasse banho, arrumasse a minha cama, saísse um pouco do quarto, quem sabe um pouco de TV? Eu não entendia, mas estavam cuidando de mim. Quando eu fiquei zonza, bati a cabeça, vomitei e tive que dormir ao lado do postinho na véspera da minha alta, a enfermagem estava de olho em mim. Pra garantir, de novo, que eu sobrevivesse.
E ainda hoje, quando eu preciso me obrigar a sair da cama debaixo de chuva para ir à escola, a enfermagem me salva.
Sou salva por ela todos os dias quando encontro ali um motivo para continuar, quando vejo nela um objetivo a ser atingido, uma meta pra continuar viva.
Eu luto contra a depressão e a ansiedade todos os dias, luto comigo mesma quando me obrigo a pesquisar, a estudar, a me dedicar a cuidar de outras pessoas quando muitas vezes eu não tenho ânimo para cuidar de mim mesma. Não é fácil, mas é a enfermagem me testando e me ajudando a me curar. Mesmo que eu chore, mesmo que eu não entenda.
Essa é a minha primeira semana de enfermagem, a primeira de muitas que eu quero viver. Parabéns a todos vocês que me salvaram, que salvaram tantas outras pessoas e que, mesmo quando não conseguem mais, ainda dão o seu melhor. Vocês me doam vida a cada segundo.
A enfermagem salvou a minha vida muitas vezes.
Hoje eu sou a enfermagem. Prometo retribuir!

(12 de maio de 2017, no Facebook)

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