segunda-feira, 9 de abril de 2018

(Re)começos

Quando eu comecei a faculdade de Direito, lá em 2013, eu tinha certeza absoluta do que eu queria e, apesar de não ter tido uma boa integração com ninguém, eu amava aquela faculdade, seu prédio velho e sua biblioteca cheia de leis que eu queria devorar. Eu fiz dois anos de cursinho para estar ali. Quando o que eu identifico como a minha primeira crise depressiva me assolou em junho de 2014 e eu abandonei o curso, eu já tinha reprovado o segundo ano e minha nota mais alta era 5,0.
Quando eu comecei a faculdade de Letras em 2015, eu não fiquei feliz porque eu já não sentia nada. Eu não achei que passaria na USP porque já não acreditava em mim e, quando passei, achei que tinha sido um golpe de sorte e não comemorei. Ao contrário da faculdade de Direito, eu odiava a FFLCH e seus alunos de nariz empinado, todos querendo saber mais que o colega do lado, odiava os circulares lotados, odiava como não me encaixava naqueles grupos estilosos que fumavam no morrinho... Gostava do que estudava, mas o tempo inteiro dentro daquela faculdade era uma tortura. Finalizei o semestre, reprovei em metade das matérias e nunca mais voltei.
Hoje, depois de muitos miligramas de antidepressivos, antipsicóticos, ansiolíticos, de todos os "anti" que você se lembrar, me arrependo todos os dias de ter perdido essas oportunidades. Talvez eu estivesse menos louca se tivesse terminado o curso de Direito, ou pelo menos poderia estar louca com mais dinheiro se tivesse continuado. Talvez eu tivesse superado meus problemas iniciais na USP e hoje estivesse super bem encaminhada no mundo acadêmico...
Mas agora, de volta a posição de aluna, com muito menor capacidade de concentração que antes devido aos "anti" que me mantém viva e bem longe da USP e de São Bernardo eu sou muito grata pela oportunidade de recomeçar. E reaprender a fazer regra de três. E de conseguir achar graça na lapiseira combinando com a borracha.
Então eu queria deixar um recadinho pra todo mundo que sofre com esses desequilíbrios neuroquímicos: a gente cai, esfola os joelhos, pensa que vai desistir e às vezes até desiste mesmo, mas se a gente não desistir as coisas melhoram. Às vezes, eu quero jogar tudo longe e não ir pra escola nunca mais. Falto dias seguidos e depois corro pra recuperar a matéria que eu perdi, porque não me permito desistir. Me dei essa obrigação e talvez seja a única obrigação real que eu tenho na vida: ficar viva pra ver as coisas melhorarem.
Tentem não desistir de vocês assim como eu tento não desistir de mim e, quando chegar o fim do dia, sintam orgulho por terem conseguido - mesmo se a única coisa que vocês conseguiram fazer foi abrir os olhos, mesmo se não saíram da cama ou tomaram banho. Se a única coisa que nós conseguirmos fazer for sobreviver, nós já estaremos fazendo o mais importante.
Saibam que vocês são foda. A gente é foda!


(25 de maio de 2017, no Facebook)



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